quinta-feira, 26 de julho de 2007

Janelas da Alma

A CASA DAS FADAS DE IUBHDHÁN










Eu tenho uma casa nas terras do Norte.

A metade de cima é de ouro vermelho
A metade de baixo é feita de prata.

Tem um alpendre de bronze claro
E uma porta lavrada no cobre.

Tem um telhado coberto de penas
Das asas das aves, azuis e amarelas.

São de ouro os seus castiçais
E têm velas de imensa pureza.

No exacto centro da minha casa
Há uma pedra de preço mui alto.

E a tristeza a mim nunca toca
Nem à minha Senhora Rainha.

Os meus criados ainda são jovens
De cabelo aos anéis, loiro e comprido.

Qualquer dos meus homens joga xadrez
E são todos eles bons companheiros.

Senhor ou Senhora que queira entrar
Não há-de achar as portas fechadas

Da minha casa nas terras do Norte.

* Poema de origem Celta (irlandês) séc. XII-XIII, anónimo.

Bernard Shaw











26/07/1856-02/11/1950)


"O assassinato é a forma extrema de censura."


"A virtude não passa de tentação insuficiente."


"Quando quero fazer graça, digo a verdade."


"Por que aceitar conselhos sobre sexo vindos do Papa? E isto admitindo-se que ele entenda alguma coisa do assunto - o que ele não deveria."


"A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes."


"Se os pais pudessem imaginar como os filhos os acham um tédio..."


"Presume-se que a mulher deve esperar, imóvel, até ser cortejada. Mais ou menos como a aranha espera a mosca."


"Quando duas pessoas estão sob a influência da mais violenta, insana, enganosa e passageira das paixões, são obrigadas a jurar que continuarão naquele estado excitado, anormal e tresloucado até que a morte as separe."




George Bernard Shaw nasceu em Dublin em 26 de julho de 1856. Filho de uma tradicional mas empobrecida família protestante, foi de início instruído por um tio, mas rejeitou a educação escolar e aos 16 anos empregou-se num escritório. Adquiriu amplo conhecimento artístico graças à mãe, Lucinda Elizabeth Gurly Shaw, e às freqüentes visitas à National
Gallery da Irlanda. Em 1872, Lucinda deixou o marido e seguiu para Londres com seu professor de música. Aos vinte anos, Shaw decidiu tornar-se escritor e juntou-se à mãe em Londres, onde seus primeiros romances passaram despercebidos. Seguiram-se anos de frustração, nos quais teve vida modesta, sustentado pela mãe. Passava as tardes no Museu Britânico, onde estudava o que não aprendera na escola e escrevia romances, e à noite assistia a palestras e debates, freqüentes entre os intelectuais de classe média londrinos. Seus cinco primeiros romances foram recusados por todos os editores da cidade, assim como a maior parte dos artigos que enviou por mais de uma década à imprensa londrina. Nesse período, tornou-se vegetariano, socialista, orador brilhante, polemista e iniciou suas tentativas como dramaturgo. As comédias satíricas do irlandês Bernard Shaw tornaram seu autor conhecido pelo espírito irreverente e inconformista. Shaw, que em 1925 recusou o Prêmio Nobel de literatura, destacou-se também como crítico literário, teatral e musical, defensor do socialismo, autor de panfletos, pródigo ensaísta em assuntos políticos, econômicos e sociais e prolífico epistológrafo.
Em 1885 conseguiu um trabalho fixo na imprensa e, durante quase uma década, escreveu resenhas literárias, críticas de arte, principalmente no campo do Teatro e brilhantes colunas musicais. Já famoso na Europa, a partir de 1904, com a montagem de John Bull's Other Island (A outra ilha de John Bull), conquistou prestígio também na Inglaterra. Em Man and Superman (1905; Homem e super-homem), Shaw expõe a teoria segundo a qual a humanidade é o último estágio do movimento evolutivo da "força da vida". O protagonista, de início avesso ao casamento, ao final cede a ele por concluir que a própria mulher constitui poderoso instrumento dessa força evolutiva, já que a continuidade da espécie depende de sua capacidade reprodutiva. Major Barbara (1905) é um ataque à fabricação e comércio de armas, assim como ao Exército de Salvação. Sua peça mais conhecida é Pygmalion (1913; Pigmaleão), comédia sobre o amor e os preconceitos da sociedade inglesa, que inspirou o filme My Fair Lady (1938; Minha bela dama), o musical homônimo (1956) e novo filme em 1964.
Durante a primeira guerra mundial, Shaw interrompeu sua produção teatral e publicou um polêmico panfleto, "Common Sense About the War" ("Bom senso acerca da guerra"), no qual considerava o Reino Unido, os aliados e os alemães igualmente culpados e reivindicava negociações de paz. A peça Heartbreak House (1920; A casa da desilusão) focaliza a decadência espiritual da geração responsável pela guerra. Back to Methuselah (1922; Volta a Matusalém) é uma parábola dramática em cinco peças interligadas, que expõem sua filosofia da evolução, desde o jardim do Éden até o ano 31920. A canonização de Joana D'Arc em 1920 inspirou a obra-prima Saint Joan (1923), tragédia da inteligência independente sacrificada por reis, bispos e juízes, que fez sucesso internacional.
Em suas últimas peças, Shaw intensificou as pesquisas com a linguagem não-realista, simbolista e tragicômica. Por cinco anos deixou de escrever para o teatro e dedicou-se ao preparo da edição de suas obras escolhidas, publicada entre 1930 e 1938, e ao tratado político "The Intelligent Woman's Guide to Socialism and Capitalism" (1928; "O guia da mulher inteligente para o socialismo e o capitalismo"). Entre os setenta e os noventa anos de idade, escreveu e produziu ainda inúmeras peças. Era um mestre no diálogo e no humor.
George Bernard Shaw morreu em Ayot Saint Lawrence, Hertfordshire, em 2 de novembro de 1950.

O Teatro de Amadores de Pernambuco encenou "PAIS E FILHOS", com tradução de Guilherme Figueiredo, em 1949, com direção de Zbigniew Ziembinski e "A ETERNA ANEDOTA", numa tradução de Tristão da Cunha no ano de 1957, com direção de Valdemar de Oliveira, ambas encenadas inicialmente no Teatro de Santa Isabel.












http://www.tap.org.br/htm/autores/bernard_shaw.htm


O homem que escreveu: “Se você tem uma maçã e eu tenho uma maçã e trocarmos estas maçãs, então eu e você teremos ainda apenas uma maçã. Mas se eu tenho uma ideia e você tem uma ideia, e trocarmos as nossas ideias, então cada um de nós terá duas ideias.”, exercitou a ficção e o ensaio, mostrando o poder de fogo da ironia cortante e a visão do mundo peculiar em que vivia. Consagrou-se no teatro, deixando clássicos como "A profissão da sra. Warren" (1902) e "Pigmalião" (1913), esta última a sua peça mais popular, e que, em 1964, deu origem ao filme "My fair Lady". O autor foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1925, que recusou. Morreu no dia 2 de Novembro de 1950.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A um ano dos Jogos Olímpicos

Mil crianças chinesas foram vendidas como escravos
Pedro Chaveca

Com uns magros 50 euros consegue-se comprar uma vida humana na China, depois inicia-se o inferno da escravatura.











São milhões as crianças que caem nas malhas da escravatura

Embora a lei chinesa considere o trabalho infantil ilegal, foram mais de mil as crianças chinesas raptadas nas várias províncias do país, especialmente na paupérrima e sobrepovoada região de Henan. Os sequestros tinham lugar, na grande maioria dos casos, em estações de comboios e autocarros.
Segundo a notícia publicada ontem pelo Diário do Povo – o órgão oficial do governo Chinês – as crianças, que depois de vendidas por 50 euros eram encaminhadas para o trabalho escravo em fábricas de tijolos, foram vitimas de maus-tratos brutais e obrigadas a trabalhar 14 horas por dia, sem qulquer tipo de pagamento.
“Alguns estiveram isolados do mundo exterior durante sete anos, foram agredidos e ficaram com ferimentos graves ao tentar escapar”, podia ler-se numa carta enviada ao jornal pelos pais das quatro dezenas crianças, entretanto recuperadas, “os guardas também lhes queimaram as costas com tijolos incandescentes”.
As famílias de 400 das crianças desaparecidas tentaram por todos os meios resgatar os seus entes queridos, acabando por gastar as suas magras economias, na maioria dos casos em vão. No final das buscas só foram reencontradas 40 crianças.
Crianças de 8 anos escravizadas
Nessa altura o desespero e a falta de meios levaram os pais a recorrer à Internet e às autoridades locais. Se a primeira pouco ajudou a segunda foi realmente um obstáculo, “não só não os ajudava como os impedia de procurar os filhos”, referiu o jornal.

A união promovida pelas olimpíadas não veio atenuar o flagelo do trabalho infantil na China
Foi preciso ser colocada uma petição na Internet, para que a polícia de Henan desse inicio às buscas e falasse com as autoridades de Shanxi, para onde se pensa que as crianças foram levadas, algumas com apenas 8 anos.
O verniz começou a estalar quando a, cada vez mais livre, imprensa chinesa deu a conhecer o horror da escravatura infantil e não só.
Na semana passada foram libertados 31 operários na província de Shanxi, que trabalhavam e viviam em condições abjectas de escravatura, numa fábrica de tijolos, propriedade do secretário local do Partido Comunista Chinês.
15 horas por dois euros
Os homens, que não recebiam mais do que pão e água, estavam profundamente traumatizados, conseguindo apenas balbuciar os próprios nomes. Todos estes verdadeiros mortos-vivos apresentavam também ferimentos graves e queimaduras profundas, uma vez que eram obrigados a caminhar descalços dentro dos fornos e a transportar tijollos a ferver.
O efeito dominó não se fez esperar. Na passada segunda-feira as autoridades chinesas foram mais uma vez obrigadas a pôr em marcha uma investigação, para clarificar o envolvimento, no mundo do trabalho infantil, de quatro empresas responsáveis pela produção de material para os Jogos Olímpicos de Pequim, no próximo ano.
Embora no início todas as fábricas tenham negado as acusações, uma delas acabou por reconhecer ter dado emprego a crianças de 12 e 13 anos. Uma confirmação que corrobora o que as organizações dos direitos humanos têm vindo a alegar.
As organizações não governamentais referem ainda que, estas vítimas do desenfreado crescimento económico chinês, são obrigadas a trabalhar 15 horas por dia, sete dias por semana, por um salário que não ultrapassa os dois euros por dia, metade do vencimento mínimo no país.
ExpressoClix

terça-feira, 24 de julho de 2007

Consciência Mundial --Fome






"A capacidade de persistir num rumo, seja ele popular ou nao, mede-se na Coragem.
Quanto maior for a Coragem, maior sera a possibilidade de operarmos mudanças."

O relógio do mundo








Analisem e pensem bem...





Em: http://www.poodwaddle.com/worldclock.swf





(Respigado em http://www.poodwaddle.com/worldclock.swf)

Recebi do Paulo

Meia Tarde





O olhar é um pensamento.


Herberto Helder, Do Mundo

HELP US TO FIND RUI PEDRO

Janelas partidas....










http://www.banksy.co.uk/menu.html

Será mesmo preciso deixar de ver primeiro,
para depois se conseguir ver melhor?


"... e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas..."

Daniel Filipe, A Invenção do Amor

"Canção na Plenitude"









Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
abrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.

Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força - que vem do aprendizado.

Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés - mesmo se fogem - retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

Lia Luft

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Preguiça de sofrer - Zuenir Ventura






Há 26 anos, elas cumprem uma alegre rotina: às sextas-feiras pela manhã sobem a serra e descem aos domingos à tarde, quando não permanecem a semana toda lá, em sua casa de Itaipava, distante hora e meia do Rio. São quatro irmãs de sobrenome Sette - Mily, a mais velha, de 86 anos; Guilhermina (84), Maria Elisa (76) e Maria Helena (73) - mais a cunhada Ítala (87), a prima Icléa (90) e a amiga de mais de meio século, Jacy (78). O astral e a energia da "Casa das sete velhinhas" são únicos.

Elas cuidam das plantas, visitam exposições, assistem a shows,
lêem, jogam baralho, conversam, discutem política, vêem televisão, fazem tricô, crochê e sobretudo riem. Só não falam e não deixam falar de doença e infelicidade. Baixaria, nem pensar. Quando preciso tomar uma injeção de ânimo e rejuvenescimento, subo até lá, como fiz no último sábado. Já viajamos juntos algumas vezes, como a Tiradentes, por cujas redondezas andamos de jipe, o que naquelas estradas de terra é quase como andar a cavalo. Tudo numa boa. Elas têm uma sede adolescente de novidade e conhecimento.

Modéstia à parte, são conhecidas como "As meninas do Zuenir". Me dão a maior força. Quando sabem que estou fazendo alguma palestra no Rio, tenho a garantia de que a sala não vai ficar vazia. São meu público cativo e ocupam em geral a primeira fila. Numa dessas ocasiões, com a casa cheia, elas chegaram atrasadas e fizeram rir ao se anunciarem a sério na entrada: "Nós somos as meninas do Zuenir ".

Nos conhecemos nos anos 70, quando morávamos no mesmo prédio no Rio e Maria Elisa, que é química, passou a dar aulas particulares de matemática para meus filhos, ainda pequenos, de graça, pelo prazer de ensinar.

Depois nos mudamos, continuamos amigos e nossa referência passou a ser a casa de Itaipava, onde minha mulher e eu temos um cantinho, um pequeno apartamento na parte externa da casa, os "Alpes suíços". No começo o terreno não passava de um barranco de terra vermelha. Hoje é um jardim suspenso, com árvores e flores variadas que constituem uma atração para os pássaros. Dessa vez, não cheguei a tempo de ver a cerejeira florida, mas em compensação assisti a uma exibição especial de um casal de papagaios.

O interior da casa é um brinco, não fossem elas meio artistas,
meio artesãs, todas muito prendadas, como se dizia antigamente.
Helena e Jacy, por exemplo, tecem mantas e colchas de tricô e
crochê que já mereceram exposições. Mily desafia a idade
preferindo as novas tecnologias e a modernidade, sem falar no
vôlei, de que é torcedora apaixonada. Sabe tudo de computador e, com Jacy, freqüenta todos os cursos que pode: de francês a ética, de inglês a filosofia.

Na parede, Tom Jobim observa tudo. A foto é autografada para
Elisa, de quem ele foi colega no Andrews. Aliás, nesse colégio da
Zona Sul do Rio, Guilhermina trabalhou 53 anos, como secretária e professora de Latim, que ela ensinava pelo método direto, ou seja, falando com os alunos. Ficou muito feliz quando na praia ouviu, vindo de dentro do mar, o grito de alguém no meio das ondas, provavelmente um surfista: "Ave, magister! ".

Amiga de personagens como o maestro Villa-Lobos, ela ajudou ou acompanhou a carreira de dezenas de jovens que passaram por aquele tradicional colégio, cujo diretor uma vez lhe fez um rasgado elogio público, ressaltando o quanto ela era indispensável ao educandário. No dia seguinte, ela pediu as contas, com essa sábia alegação: "Eu quero sair enquanto estou no auge, não quando não souberem mais o que fazer comigo ".

Foi para casa e teve um choque, achando que não ia suportar a
aposentadoria. Durou pouco, porque logo arranjou o que fazer. É
tradutora e gosta muito de etimologia: adora estudar a vida das
palavras desde suas origens, principalmente quando são gregas.

Ah, nas horas vagas faz bijuterias.

Para explicar como se desvencilhou do vazio de deixar um emprego de 53 anos e começar nova vida já velha, Guilhermina usou uma frase que se aplica a todas as outras seis velhinhas e que eu gostaria de adotar também: "Tenho preguiça de sofrer".

Não são o máximo as meninas do Zuenir?

"Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é
opcional" (Roberto Shinyashiki)

Recebido em email do Luiz Eduardo Boudakian
http:www.aprendendoaviver.com.br

Escravatura infantil




Cerca de 9 milhões de crianças trabalham e vivem como escravas em todo o mundo




"Ninguém cometeu maior erro do que aquele que não fez nada só porque podia fazer muito pouco."

Edmund Burke

Ajuda de Berço







Caras amigas e amigos,



Digam a 10 amigos para dizerem a 10 amigos hoje!

A "Ajuda de berço" que acolhe crianças dos 0 aos 3 anos, necessita da nossa
ajuda.

É um site que vive da publicidade que faz e são as empresas que o patrocinam
que ajudam esta associação.

Só temos que mostrar que visitámos o site em questão.

Demora menos de um segundo a ir ao site e clicar no botão "UM COLO
PARA CADA CRIANÇA": http://www.arcidadania.org/


PASSEM A 10 AMIGOS, PARA PASSAREM A OUTROS 10 AMIGOS.

Petite Fleur









J'ai caché
Mieux que partout ailleurs
Au grand jardin de mon coeur
Une petite fleur
Cette fleur
Plus jolie qu'un bouquet
Elle garde en secret
Tous mes rêves d'enfant
L'amour de mes parents
Et tous ces clairs matins
Fait d'heureux souvenirs lointains


Petite fleur Sidney Bechet, Fernand Bonifay e Mario Bua

Aquarela




Que estejam felizes
que Deus vos cuide,sempre.
Abraços de Segunda feira!!!

domingo, 22 de julho de 2007

CARTA DA TERRA










http://www.fantamix.com.br/voyager/



CARTA DA TERRA
No dia 14 de março de 2000 na Unesco em Paris foi aprovada a Carta da Terra depois de oito anos de discussões em todos os continentes, envolvendo 46 países e mais de 100 mil pessoas, desde escolas primárias, esquimós, indígenas da Austrália, do Canadá e do Brasil, entidades da sociedade civil, até grandes centros de pesquisa, universidades e empresas, e religiões. A Carta deverá ser apresentada e assumida pela ONU no ano 2001 com o mesmo valor da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por ela poder-se-ão agarrar os agressores da dignidade da terra, os Pinochets anti - ecológicos em qualquer parte do mundo e levá-los aos tribunais. Na Comissão de redação estavam Mikhail Gorbachev, Maurice Strong, Steven Rockfeller, Mercedes Sosa, Leonardo Boff e outros. Aqui segue a Carta para ser discutida nas comunidades e em todos os âmbitos.

PRINCÍPIOS
I RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA

1 - Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a- Reconhecer que todos os seres são interligados, e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.
b- Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2 - Cuidar da comunidade de vida com compreensão, compaixão e amor.
a- Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio - ambiente e de proteger o direito das pessoas.
b- Afirmar que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.

3 - Construir sociedades democráticas que sejam justas participativas, sustentáveis e pacíficas.
a- Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada um a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
b- Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura que seja ecologicamente responsável.

4 - Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
a- Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b- Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro grandes compromissos, é necessário:


II - INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5 - Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.
a- Adotar planos e regulações do desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a habilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b- Estabelecer e proteger as reservas com umas natureza viável a biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustentação da vida da Terra, manter a sua diversidade e preservar nossa herança natural.
c- Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.
d- Controlar e erradicar organismos não - nativos ou modificados geneticamente que causem danos as espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.
e- Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, redutos florestais e a vida marinha com formas que não ultrapassem as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.
f- Manejar a extração e uso de recursos não renováveis, como minerais e combustíveis fósseis, de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental.

6- Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho o prudência.
a- Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.
b- Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.
c- Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.
d- Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e- Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7- Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a- Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b- Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia do sol e do vento.
c- Promover o desenvolvimento , a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.
d- Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que atendam as mais altas normas sociais e ambientais.
e- Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f- Adotar estilos de vida que enfatizem a qualidade de vida e os bens materiais suficientes num mundo finito.

8- Aprofundar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a- Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b- Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c- Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental , incluindo informação genética, estejam disponíveis ao grande público.

III JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9- Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social econômico e ambiental.
a- Garantir o direito à água potável , ao ar puro, à segurança alimentar, aos solo não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais necessários.
b- Prover a cada ser humano educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, proporcionando seguridade e assistência coletiva a todos aqueles que não são capazes de se manter-se a si mesmos.
c- Reconhecer o ignorante, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem e permitir-lhes o desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10- Garantir que as atividades econômicas de instituições em todos os níveis que promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a- Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.
b- B- Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.
c- Garantir que todas as transações comerciais apoiem o uso de recursos sustentáveis a proteção ambiental e normas laborais progressivas.
d- Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.

11- Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.
a- Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.
b- Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural, como parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.
c- Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os membros da família.

12-Defender sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a- Eliminar a discriminação em todas as suas formas como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica e social.
b- Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c- Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d- Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual.

IV-DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13- Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso a justiça.

a- Defender o direito de todas as pessoas de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e sobre todos os planos de desenvolvimento e sobre atividades que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b- Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.
c- Proteger os direitos à liberdade de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de discordância.
d- Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.
e- Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f- Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes e apontar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14- Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias a um modo de vida sustentável.
a- Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que os empodere a contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b- Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na educação para a sustentabilidade.
c- Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.
d- Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15- Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a- Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.
b- Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado e evitável.
c- Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.

16- Promover uma cultura de tolerância, não violência e de paz.
a- Estimular e apoiar os entendimentos mútuos, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro e entre as nações.
b- Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a cooperação na resolução de problemas de manejo, de conflitos ambientais e de outras disputas.
c- Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar a uma postura não provocativa de defesa e converter os recursos militares em finalidades pacíficas, incluindo restauração ecológica.
d- Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição de massa.
e- Assegurar que o uso dos espaços orbitais e exteriores mantenham a proteção ambiental e a paz.
f- Reconhecer que a paz é a integridade criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com o grande Todo do qual somos parte.

Uma amizade tão delicada...





Seus dias eram sempre os mesmos. Acordava na mesma hora quando o sol ainda não nascera e tampouco a lua caíra do horizonte. Tomava o café, saía de casa às sete e até pegava a tal condução que era dirigida pelo mesmo motorista. Trabalhava sempre igual, mecanicamente, todos os dias, até que chegava a hora de ir embora. Para fazer o quê? Comer o jantar congelado, assistir aquela novela de sempre que de nova só tinha o título, o programa de entrevista que usava a mesma fórmula tarimbada de sucesso e, finalmente, dormir na sua cama, a mesma, há tanto tempo.

Mas ela tinha que sair do trabalho e voltar para casa, então, descia a rua, olhando as casas, considerando se naqueles jardins teria nascido alguma flor que, então, faria sua vida ter um quê de diferença.

Naquele dia, enquanto contava as rosas do jardim da casa amarela, aquela com o pé direito alto e as janelas cremes sempre cerradas, a mulher o encontrou parado na esquina em frente à meia água mirrada onde plantada há uma romãzeira em flor.

Ele observava a mulher com nítido interesse, com uma certa curiosidade nos olhos castanhos. Ela tentou não demonstrar, mas sobressaltou-se. Não podia revelar que estava com medo. Sempre soube que eles percebem quando estamos com medo e aí atacam. Mas o coração batia descompassado e, apesar de mudo dentro do peito, ouvia-o nas têmporas. Respirou fundo, passou com ar de quem não estava nem aí, enquanto ele permaneceu sentado. Apenas os olhos a seguiam — será que percebeu um ar irônico?— e, quando a mulher sentiu-se segura, deu uma olhadela de soslaio e ele continuava lá, parado. Um Vira-latas com focinho e pernas amarelas, dorso e cauda negra, peluda, parecendo um ponto de interrogação. Tinha um porte médio e um certo jeitão de cachorro que sabe o que quer da vida.

A mulher esqueceu-se do acontecido durante toda a noite e durante o dia seguinte, até que ao sair novamente do trabalho, topou com ele, de novo, na mesma esquina. Olhava-a curioso, com a cauda movimentando-se lentamente de um lado para o outro. Fingindo não sentir medo, e tentando não correr, passou por ele tesa e, dessa vez o cachorro moveu-se e pôs-se a segui-la. “Ai, droga! O que será que ele quer de mim? Não tenho comida e nem ao menos gosto de cachorros!” Parecendo ler seus pensamentos, ele estancou com um ar decepcionado. E ficou ali até que, a mulher, um pouco surpresa, virou a esquina com pressa. Mas, no dia seguinte...

Lá estava ele parado no mesmo lugar! Ora, ela começou a ficar intrigada quando o cachorro a seguiu novamente, porém guardando uma distância respeitosa, tentando com certeza, não assustá-la. “Acho que estou ficando louca, pensou a mulher, como ele pode estar tentando não me assustar?”

E assim foi no dia seguinte e no outro e nos outros que se seguiram. O cachorro esperava a mulher na esquina. Ela não afagava sua cabeça e ele não abanava a cauda. Apenas a seguia, até que, ao chegar no ponto do ônibus, ele a esperava subir na condução que a levaria para casa.

Era um cachorro diferente, concluiu a mulher. Nada pedia. Nem comida, nem afagos. Queria somente a sua companhia naquele breve trajeto. Ia satisfeito, caminhando ao seu lado e só retornava quando tinha certeza que ela havia entrado no ônibus. Uma vez a mulher saltou um ponto adiante e voltou correndo para descobrir aonde o cachorro ia. E encontrou-o parado no mesmo lugar. Não se mexera. Como se soubesse de antemão as suas intenções. Muito estranho... sentia-se como em um episódio do além da imaginação. Ou será que é pegadinha? É pegadinha, só pode ser, concordou olhando discretamente para os lados para ver se encontrava a câmera. Ela nunca achou a câmera escondida...mas o cachorro, esse estava lá, sempre, todos os dias, na esquina, em frente a romãzeira que perdeu as flores e ganhou frutos. E seus olhos brilhavam quando via a mulher. Era como uma espécie de dever: esperar e proteger. Porque é assim que ela se sentia: protegida. Mas por quê? Construía mil fantasias: era um extraterrestre. Estava numa missão importante: estudar os terráqueos, e entender como podiam sobreviver com suas vidas solitárias, com suas mesmices e desilusões. Só podia ser...

O importante é que a mulher passou a colorir seus dias com um tom outro que não o cinza. E quando pensava no cachorro, com seu jeito manso e nobre de cachorro velho e sábio, com aquele sorriso discreto no focinho repleto de pêlos brancos, a mulher iluminava-se, seu coração pulsava de um jeito diferente e ela arriscava-se a trautear uma melodia há muito esquecida que a fazia lembrar de pique, de roda, amarelinha e cama de gatos.

E a romãzeira perdeu os frutos. Suas sementes serviram para fazer amuletos de boa sorte no dia de Reis e o cachorro estava sempre lá. E esperava.


Daisy Melo (1961) é carioca de nascimento. Conta que, um dia, resolveu se dedicar às “Letras” em todos os sentidos: aprender, estudar, ensinar, escrever, ler, revisar... fazer qualquer coisa que tivesse as palavras como objeto. Cursa a Faculdade de Letras e, se ainda não vive delas, está vivendo para elas. Alguns de seus trabalhos foram publicados em sites da internet. Em livro, somente um, publicado pela Editora Record para uma edição comemorativa aos 100 anos de Graciliano Ramos, em 2003.

Documentário - Darfur Genocídio







"A indiferença é o gigante invencivel do Mundo"
Ouida

Para quê??


























Nós somos as crianças do mundo, somos as crianças da rua, as crianças de guerra, as crianças infectadas com o virus da sida, somos as crianças cujas vozes não estao a ser ouvidas
Gabriela Azurduy Arrieta ,perante a Assembleia Geral da ONU

A Vida

sábado, 21 de julho de 2007

"Make some noise - save Darfur"





"Dá-me a coragem de não desistir
mesmo que pareça
que não há Esperança"

Natureza (Haikai)

Pálido Ponto Azul




"...a terra é espaço muito pequeno em uma imensa arena cósmica.."
Carl Sagan."

Your Visual ADN.

Vamos verificar a nossa personalidade?
É divertido e acerta muitas vezes.

FILL IT UNTIL THE END.


Para preencher até ao fim...
http://dna.imagini.net/friends/

O Gato Zen





O Homem estava muito triste. Sabia que os dias do Gato estavam contados. O veterinário havia dito que não havia mais nada a fazer, que ele deveria levar o Gato para casa, e deixá-lo o mais confortável possível.
O Homem acariciou o Gato em seu colo e suspirou. O Gato abriu os olhos, ronronou e olhou para o Homem. Uma lágrima escorreu pela face do Homem e caiu na testa do Gato. O Gato lhe lançou um olhar ligeiramente irritado.
"Por que você está chorando, Homem?", perguntou. "Porque não suporta a idéia de me perder? Porque acha que nunca vai poder me substituir?"
O Homem fez que sim com a cabeça."E para onde acha que eu irei quando deixar você?", o Gato perguntou.
O Homem deu de ombros, sem saber o que dizer.
"Feche os olhos, Homem", disse o Gato. O Homem o olhou sem entender bem, mas obedeceu.
"De que cor são meus olhos, meu pêlo?", o Gato perguntou.
"Os olhos são dourados e o pêlo é marrom, um marrom intenso e vivo", o Homem respondeu.
"E em que parte do corpo tenho pêlos mais escuros?", o Gato perguntou.
"Nas costas, no rabo, nas pernas, no nariz e nas orelhas", disse o Homem.
"E em que lugares você mais costuma me ver?", perguntou o Gato.
"Eu vejo você... no parapeito da janela da cozinha, observando os passarinhos... na minha cadeira preferida... na escrivaninha, deitado em cima dos papéis de que eu preciso... no travesseiro ao meu lado, à noite".
O Gato assentiu.
"Você consegue me ver em todos esses lugares agora, mesmo de olhos fechados?", perguntou.
"Claro. Vi você neles por muitos anos", o Homem disse.
"Então, sempre que você quiser me ver, tudo o que precisa fazer é fechar os olhos", disse o Gato.
"Mas você não vai estar lá de verdade", respondeu o Homem com tristeza.
"Ah, é mesmo?", disse o gato. "Pegue aquele barbante do chão - ali, meu 'brinquedo'".
O Homem abriu os olhos, esticou o braço e pegou o barbante. Tinha uns 60 centímetros e o Gato conseguia se divertir com ele por horas e horas.
"De que ele é feito?", o Gato perguntou.
"Parece que é de algodão", o Homem disse.
"Que vem de uma planta?", perguntou o Gato.
"Sim," disse o Homem.
"De uma só planta ou de muitas?"
"De muitos algodoeiros," o Homem respondeu.
"E seria possível que outras plantas e flores nascessem no mesmo solo do algodoeiro? Uma rosa poderia nascer ao lado do algodão, não?", perguntou o Gato.
"Sim, acho que seria possível", disse o Homem.
"E todas as plantas se alimentariam do mesmo solo e da mesma chuva, não é?", o Gato perguntou.
"Sim", disse o Homem.
"Então, todas as plantas, a rosa e o algodão, seriam muito parecidas por dentro, mesmo aparentando ser muito diferentes por fora", disse o Gato.
O Homem concordou com a cabeça, mas não conseguia entender o que aquilo tinha a ver com a situação.
"E então, aquele barbante", disse o Gato, "é o único barbante do mundo feito de algodão?"
"Não, claro que não", disse o Homem, "foi tirado de um rolo de barbante".
"E você sabe onde estão todos os outros pedaços de barbante, e todos os outros rolos?", perguntou o Gato.
"Não, não sei... seria impossível saber", disse o Homem.
"Mas mesmo sem saber onde estão, você acredita que eles existem. E mesmo que alguns pedaços de barbante estejam com você, e outros estejam em outros lugares... mesmo que alguns sejam curtos e outros sejam compridos, e mesmo que seu rolo de barbante não seja o único no mundo... você concorda que há uma relação entre todos os barbantes?", o Gato perguntou.
"Nunca tinha pensado nisso, mas acho que sim, há uma relação", o Homem disse.
"O que aconteceria se um pedaço de barbante caísse no chão?", perguntou o Gato.
"Bom... ele ia acabar enterrado, e se decompondo na terra", o Homem disse.
"Sei", disse o Gato. "E talvez nascesse mais algodão naquele lugar, ou uma rosa".
"Pode ser", concordou o Homem.
"Quer dizer que a rosa no parapeito da janela pode ter alguma relação com o barbante na sua mão, e também com todos os barbantes que você nunca viu", disse o Gato.
O Homem franziu a testa, pensando.
"Agora pegue uma ponta do barbante em cada mão", instruiu o Gato.
O Homem fez o que foi pedido.
"A ponta na mão esquerda é o meu nascimento, e a na mão direita é minha morte. Agora junte as duas pontas", disse o Gato.
O Homem obedeceu.
"Você formou um círculo contínuo", disse o Gato. "Alguma parte do barbante parece diferente, melhor ou pior que qualquer outra parte dele?"
O Homem examinou o barbante e então fez que não com a cabeça.
"O espaço dentro do círculo parece diferente do espaço fora dele?", o Gato perguntou.
De novo, o Homem fez que não com a cabeça, mas ainda não sabia se estava entendendo onde o Gato queria chegar.
"Feche os olhos de novo", disse o Gato. "Agora lamba a mão".
O Homem arregalou os olhos, surpreso.
"Faça o que eu digo", disse o Gato. "Lamba a mão, pense em mim em todos os meus lugares costumeiros, pense em todos os pedaços de barbante, pense no algodão e na rosa, pense em como o interior do círculo não é diferente do exterior".
O Homem se sentiu bobo, lambendo a mão, mas obedeceu. Ele descobriu o que um gato deve saber, que lamber uma pata é muito relaxante, e ajuda a pensar mais claramente. Continuou a lamber, e os cantos da boca começaram a esboçar o primeiro sorriso que ele dava em muitos dias. Esperou que o Gato lhe mandasse parar mas, como este não mandou, abriu os olhos. Os olhos do Gato estavam fechados. O Homem acariciou o pêlo marrom, quente, mas o Gato havia morrido.
O Homem cerrou os olhos com força e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
Viu o Gato no parapeito da janela, na cama, deitado em cima dos papéis importantes. Ele o viu no travesseiro ao seu lado, viu os olhos dourados brilhantes, e o marrom mais escuro no nariz e nas orelhas. Abriu os olhos e, por entre as lágrimas, olhou para a rosa que crescia em um vaso na janela, e depois para o barbante que ainda segurava apertado na mão.
Um dia, não muito depois, tinha um novo Gato no colo. Era uma linda gata malhada... tão diferente do seu querido Gato anterior mas, ao mesmo tempo, tão parecida.
Copyright 2001 by Jim Willis. Todos os direitos reservados.Tradução: Daniela TravagliniCopyright da tradução brasileira © 2003 by Lugano Editora



Dedicado ao Tigre, pensando na Ines!!!